Como quebrar o ciclo da pobreza na América Latina em uma geração

Publicado inicialmente na Forbes em 08/09/2021
Traduzido por Fábio Abreu e revisado por Janaina Cicari

A pobreza tem muitas raízes: racismo, desigualdade, corrupção ou simplesmente azar. Todos procuram reduzi-la, mesmo os piores ditadores. Porque quanto mais riqueza no país, mais poder para eles. Além disso, governantes populistas que perpetuam a pobreza tendem a ter finais tristes.

A América Latina sofre com uma história de ditaduras, crime, incompetência e tráfico de drogas que retarda o crescimento de nossas economias. Mas não é o pior lugar do planeta, nem o mais pobre. Na verdade, tem grandes vantagens:

  • População jovem;
  • Mesmo fuso horário dos Estados Unidos e Canadá;
  • Forte conexão cultural com o mundo ocidental;
  • Infraestrutura aérea forte;
  • Conectividade com a Internet em melhoria exponencial.

Sua grande desvantagem: leva de 5 a 10 gerações para sair da pobreza.

Você está interessado em tecnologia, tem uma conexão com a Internet e um desejo de aprender. Enquanto você continuar nesse caminho, eventualmente, você estará em um lugar melhor e não sofrerá com a pobreza. Você é uma pessoa premiada e teve a sorte de chegar aqui. E os outros?

Como quebrar o ciclo da pobreza sem precisar de sorte

Hoje, em 2021, cinco iniciativas fariam você crescer sem pobreza se agirmos agora:

  • Segurança alimentar;
  • Paixão pela leitura;
  • Computação acessível pela Internet;
  • Uma alternativa ao ensino médio;
  • Inglês.

Imagine uma menina de 5 anos crescendo em um bairro onde a eletricidade vai e vem e não há água encanada. Sua mãe é uma jovem solitária com um trabalho terrível que a deixa exausta. Resumindo: um menor de idade comum da América Latina. Esta pode ser a sua história:

O futuro de uma menina de 5 anos nascida na pobreza

Vamos supor que esta menina de 5 anos, filha de mãe solteira, cresça em um país que resolve os cinco problemas anteriores. A mãe sabe que, na escola, a filha terá alimentação e cuidados seguros. O que a encoraja a mantê-la na escola ao invés de levá-la para o trabalho ou pedir dinheiro na rua.

A menina teve acesso a livros e histórias que, em seu próprio ritmo e com a orientação da escola, criaram nela um imenso amor pela leitura. Livros em inglês e espanhol que lhe mostravam um mundo além da cidade onde cresceu, embora fosse difícil para ela lê-los.

Tanto na escola quanto em casa, usando seu computador e uma plataforma de educação online, ela faz trabalhos de casa e projetos com alunos de outras cidades e países. Conhecer garotas de sua idade em diferentes culturas, com os mesmos interesses, fez com que ela escrevesse melhor e dominasse a Internet desde muito jovem.

Ao longo dos anos, enquanto completava suas aulas obrigatórias, ela começou a fazer cursos eletivos on-line em várias carreiras básicas. Fundamentos de programação, introdução ao marketing, fundamentos de design, ilustração, desenho e até astrobiologia.

Aos 12 anos, descobriu um profundo amor pela psicologia e pela escrita. Começou a escrever suas ideias, aprendeu a montar um blog, uma marca pessoal e até a investigar como conseguir um emprego online.

Aos 13 anos, já havia concluído todas as disciplinas de ciências naturais e sociais do ensino médio. Ela estava escrevendo em inglês sem problemas e seu inglês de conversação estava melhorando. Nos 3 anos seguintes, ele levaria o ensino médio fácil, usando seu tempo livre para escrever e fazer pesquisas mais avançadas, além de aulas de psicologia do consumidor.

A partir dos 15 anos, com seus amigos de outros países, ela começou a receber um pouco de dinheiro para pequenos trabalhos de redação online freelance que lhe permitiam contribuir com sua casa.

Aos 17 anos, formada no ensino médio, ela já tinha um trabalho remoto de meio período em uma startup internacional como UX Writer que lhe permitia pagar a faculdade ou continuar se especializando online. Ela ganha 20 vezes mais por mês do que sua mãe, que agora também passou a estudar online, orientada pela filha.

Elas nunca vão parar de aprender como uma família.

1. Segurança alimentar

A fome e a desnutrição são o começo de todos os males. Elas retardam o crescimento de nossos filhos e afetam o desenvolvimento do cérebro e da inteligência. O que está correlacionado com uma vida de crime.

A América Latina não tem um problema de produção de alimentos, mas de logística. Dar duas refeições gratuitas por dia a partir da primeira série em todas as escolas pode aliviar um enorme fardo dos pais (mães solteiras, quase sempre) e garantir igualdade de condições, não importa onde você nasceu.

Todos os países desenvolvidos fazem isso e é um investimento que nossos países podem fazer. É MUITO mais barato do que o custo gerado pela fome em crime e saúde.

2. Paixão pela leitura

Nunca pare de aprender é a única estratégia vencedora. Para aprender mais rápido você precisa gostar de ler. Mas, com exceção do Chile, nossos países não lêem. A OCDE classifica a América Latina como uma das piores regiões em compreensão de leitura. O professor médio do ensino fundamental não consegue ler em nível universitário.

Ler coisas que não nos interessam por obrigação mata nossa paixão natural pela leitura. A maneira de ler mais é ler o que lhe interessa. Não importa quão raso ou profundo. A paixão pela leitura é intensificada pelo tempo que nossos pais passavam lendo para nós quando crianças. Se não tivemos isso na infância, ainda podemos, como adultos, corrigir essa ausência e ler novamente.

3. Computação acessível pela Internet

Hoje, a lacuna de desigualdade entre quem tem conectividade e quem não tem é cruel. Não ter Internet faz de você um cidadão de segunda classe. A vantagem de ter um telefone é enorme. E por isso é uma armadilha em tenra idade.

Nossos telefones são, acima de tudo, dispositivos de consumo. Para aprender é preciso criar e a criação é feita em computadores com teclado. Este artigo foi escrito em um computador, não em um telefone. Os trabalhos mais bem pagos são feitos em um computador.

Dar tablets educativos para crianças é uma ilusão. No primeiro mundo, todas as escolas que experimentaram acabaram optando por notebooks. Quanto mais rápido uma criança adquire um computador de verdade, mais oportunidades ela tem de descobrir o mundo inteiro e não apenas ficar no loop infinito do YouTube e do TikTok que os telefones e tablets criam.

E esses computadores precisam de Internet. Madagascar criou uma rede de fibra gigabit em toda a ilha. Graças a isso, eles cresceram além da indústria de baunilha para criar uma explosão de empreendedorismo tecnológico.

4. Uma alternativa ao ensino médio

A educação secundária latino-americana está nas últimas posições. É um problema difícil de corrigir. Os governos investem pouco em educação. Os sindicatos de professores interrompem os esforços para melhorar a qualidade. Os alunos chegam à adolescência com a necessidade de contribuir com dinheiro para suas casas e abandonam a escola.

O modelo atual de ensino médio não muda há quase um século e ignora a Internet e o mundo moderno. Um estudante do ensino médio deve ter a opção de terminar todas as aulas de matemática do ensino fundamental ao ensino médio em um ano. Sem seguir o mesmo percurso acadêmico que os restantes colegas. Concentre-se mais um ano em mais três assuntos. Termine Química em 3 meses antes mesmo de pensar em Espanhol ou Geografia.

Não é uma utopia distante. Benjamin Bloom na década de 1960 mostrou que aprender em nosso próprio ritmo, em nosso próprio tempo, é a melhor maneira de dominar qualquer assunto. Nossa região não está preparada para essa mudança. A escola secundária é um sistema complexo de segurança no emprego para professores, creche para pais e medição de indicadores sociais para governos.

Mas… os adolescentes podem escolher esse caminho e facilitar suas vidas, se tivessem uma escola online assim. Em inglês existe a Khan Academy. Em espanhol, em breve, espero que Platzi consiga crescer para oferecer ensino médio para todos.

5. Inglês

Todos os governos latino-americanos deveriam estar obcecados em tornar sua população bilíngue. Todos os pais devem investir o mais cedo possível no aprendizado de inglês de seus filhos.

A Holanda é assim. Desde a pré-escola as crianças aprendem holandês e inglês. O inglês é melhor aprendido em Amsterdã do que em Miami. Saber inglês abre suas opções de trabalho para um mercado global. Os alunos da Platzi English Academy ganham 48% a mais apenas alcançando o Conversational English.

O governo de El Salvador está fornecendo a mais de um milhão de estudantes do ensino médio notebooks com acesso à Platzi English Academy e mais governos estão chegando. Este futuro é possível. Essa história acontece todos os dias com alunos adultos de Platzi.

Nada disso é uma solução perfeita. A criminalidade continua sendo nossa realidade, assim como a corrupção e a profunda mediocridade institucional na região. Na Platzi, nossa missão é fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para tornar esse futuro uma realidade. E se estivermos errados, mudaremos rapidamente de rumo.

Além disso, nós, como cidadãos, devemos buscar tornar isso uma realidade. Seja com votos (onde ainda temos democracia), com ativismo ou tentando diretamente chegar a cargos de governo. Um único governo focado dando o exemplo pode causar uma bola de neve. E em duas gerações dessas mudanças, transformar a América Latina em um exemplo para a humanidade.

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