Em uma noite estrelada, há um grupo de pessoas reunidas em torno de uma
fogueira. As chamas altas e fortes ajudam a enfrentar o frio e a escuridão. Alguém,
provavelmente em posição de liderança para aquele grupo, narra situações sobre a
vida, a morte, divindades de outros mundos e sobre eles próprios. O fogo aquece
seus corpos e, as palavras, suas almas e corações.
Contar histórias é uma arte que sempre encantou a humanidade. Ouvi-las,
obviamente, também. Desde tempos remotos, crianças, jovens, adultos e idosos
deleitam-se com as jornadas de heróis épicos cruzando mundos em busca de um
objetivo maior. Estas jornadas de heróis épicos, basicamente, eram análogas as
próprias jornadas de vida. A identidade do ser humano, desta forma, era construída
de acordo com estas histórias, bem como as histórias eram narradas de acordo com
as jornadas de vida.
Narrar histórias não era uma forma de entretenimento, mas sim
um ensinamento para o grupo. De acordo com a diretora de cinema Beeban Kidron,
evidências sugerem que todos os seres humanos, de todas as idades e culturas,
criam sua identidade em algum tipo de forma narrativa. De mãe para filha, de
pregador para congregante, de professor para aluno, de contador de histórias para
audiência. Tanto em pinturas em cavernas às mais recentes aplicações da internet,
seres humanos sempre contaram suas histórias e verdades por alegorias e fábulas.
Somos contadores de história crônicos
As histórias têm o poder singular de criar experiências compartilhadas entre o
grupo. O storytelling está intimamente relacionado a criar uma intimidade coletiva. É
um exercício de soma, de agregação consigo, com o próximo, com todo o universo
do imaginário e com a realidade. O storytelling é algo social e coletivo, permeado
pela afetividade e efetividade daqueles envolvidos no processo. Como as narrativas
têm o poder singular de gerar curiosidade, identificação e envolvimento, o
storytelling acaba sendo também muito utilizado no nível corporativo, seja em
branding ou publicidade, ajudando a promover e impulsionar ideias e vendas de
diversos produtos e serviços.
Sabendo que histórias atrativas dialogam com o lado emocional do público, o storytelling como técnica e ferramenta é utilizado a todo o
momento para transmitir a mensagem da marca. Passando por alta tecnologia,esportes, culinária, vestuário, automóveis a simples itens de higiene, uma história bem contada pode encantar qualquer pessoa, principalmente um determinado
público-alvo de algum produto. O ato de contar e consumir histórias é, inegavelmente, atrativo.
Seja indo ao cinema e se maravilhando pela forma como certo diretor narra acontecimentos, lendo um livro e se deleitando com passagens emocionantes ou
ouvindo um ente querido contando como era sua infância, a experiência de compartilhar emoções é sempre bem-vinda.
O ser humano é um ser comunicativo.
O fascínio por histórias é inerente à espécie ou, ao menos, entrou no inconsciente coletivo por meio da cultura. O mundo contemporâneo, após diversos avanços nas tecnologias e técnicas de comunicação, conta e consome histórias de uma forma nunca antes vista. Praticamente todos os tipos de entretenimento atual possuem uma história de fundo. Robert McKee, um dos principais estudiosos de roteiros do mundo, fala que “o mundo hoje consome filmes, romances, teatro e televisão em tanta quantidade e com uma fome tão voraz que as artes da estória (sic) viraram a
principal fonte de inspiração da humanidade, enquanto ela tenta organizar o caos e ter um panorama de vida.
Nosso apetite por estórias é um reflexo da necessidade profunda do ser humano em compreender os padrões do viver, não meramente
como um exercício intelectual, mas como uma experiência pessoal e emocional.” Esta força arrebatadora que as histórias têm de permanecer na memória e
nos corações das pessoas não existe por acaso. As histórias contemporâneas, por exemplo, já foram contadas e admiradas várias e várias vezes.
O ser humano, assim, mesmo que inconscientemente, reconhece estas histórias, ou ao menos padrões e detalhes inerentes a todas elas. Ele não as consegue jogar ao esquecimento pois elas vivem retornando, sob diferentes máscaras e nomes. Em essência, porém, são as mesmas e velhas histórias.
As diversas narrativas existentes seguem, segundo o conceituado estudioso das religiões comparadas, Joseph Campbell, padrões básicos herdados de mitos antigos. Com diferenças pontuais em cada história, este modelo, como poderia ser definido, é chamado de Jornada do Herói (ou Monomito), e serve como estrutura para as diversas histórias da humanidade. Vale, assim, para a mitologia grega clássica e também para a jornada de vida do próprio ser humano. As histórias, então, são ensinamentos para a humanidade.
Todo o ser humano é um herói, e deve, desta forma, percorrer a jornada. Christopher Vogler, aclamado roteirista americano, comenta que “o padrão da Jornada do Herói é universal, recorrente em todas as culturas e em todas as épocas. Como a evolução humana, ele é
infinitamente variável e, ainda assim, sua forma básica permanece constante. A Jornada do Herói é um conjunto incrivelmente tenaz de elementos que brota
incessantemente dos rincões mais profundos da mente humana; diferente em detalhes para cada cultura, mas fundamentalmente o mesmo.”
Desta forma, percebe-se que as diversas histórias e mitos servem como guias para a humanidade. Não apenas entretenimento e corporativismo, ajudam a moldar a consciência e a ensinar valores. São transformadoras e possibilitam a junção social.
As histórias são, assim, absolutamente necessárias para o ser humano, seja na infância, na juventude, na idade adulta ou na velhice.